Apresentação
A economia solidária, segundo Daniela Pimentel, supervisora administrativa na Avesol, é, resumidamente, a organização do trabalho de forma coletiva e igualitária, com prioridade à vida das pessoas e ao meio ambiente, acima do lucro. E a cooperação, por sua vez, é um dos princípios da economia solidária, ao lado de autogestão, democracia, solidariedade, respeito à natureza, comércio justo e consumo solidário.
Hoje, já vivenciamos várias experiências ao redor do mundo que, através de suas práticas colaborativas, buscam uma forma alternativa à competitividade do mercado, aplacando a desigualdade social. Mas quais são as suas bases, seus princípios? Como colocá-las em prática?
O livro possui doze capítulos que abordam diversos temas e reflexões. Seu objetivo é apresentar a economia da solidariedade como um fenômeno que surge através da ação de pessoas engajadas em encontrar novas formas de fazer as coisas. Serão compartilhados motivos, preocupações e urgências relacionadas a esse tema, e serão explorados os caminhos abertos por ações pioneiras.
O convite ao leitor é para acompanhá-los em um lugar de observação especial, que será construído dentro de si mesmo. A partir desse novo ponto de vista, poderão enxergar a realidade de perto e de longe ao mesmo tempo, de forma ampla e compreensiva.
O autor se propõe a possibilitar uma nova visão do mundo e de si próprio, observando os caminhos desta particular concepção da economia como algo que vem de tempos antigos e se projeta em um possível futuro de uma nova civilização.
Embora as distâncias entre as experiências concretas e sua projeção histórica sejam enormes, o convite é para acompanhar passo a passo até esse lugar de observação especial. Pelo mesmo, é preciso estar ciente de que talvez não se veja as coisas da mesma forma e se envolva em aventuras inesperadas, explorando caminhos junto a outros companheiros de estrada.
Vamos a ele?
A ideia central é que a solidariedade não deve ser apenas um complemento ou correção aos defeitos da economia, mas sim uma parte intrínseca e transformadora da atividade econômica.
Luiz Razeto
Capitulo I | O que é Economia de solidariedade (resumo)
Pode-se juntar a economia e a solidariedade?
Economia de solidariedade é um conceito novo que, embora tenha surgido poucos anos atrás, está já fazendo parte da cultura latino-americana. Quando comecei a usar esta expressão, e publiquei em 1984 o livro primeiro de Economia de solidariedade e mercado democrático, pude observar a reação de surpresa provocada ao associar os dois termos numa só expressão.
As palavras “economia” e “solidariedade”, embora comuns tanto na linguagem coloquial quanto na culta, faziam parte de “discursos” separados. Enquanto, “Economia” é inserida numa linguagem factual e num discurso científico, “solidariedade”, é inserida numa linguagem valórica e num discurso ético. Assim, dificilmente apareciam os dois termos num mesmo texto, menos ainda, num só julgamento ou razoamento. Logo, parecia muito estranho vê-los unidos num mesmo conceito.
Decerto, a economia tradicionalmente foca em questões como utilidade, carência, juros, propriedade, competição e ganho. Por sua vez, a solidariedade é associada a valores éticos como amor, fraternidade, ajuda mútua e participação em comunidades.
Entretanto, a relação entre esses dois conceitos nem sempre foi simples, com a busca por riqueza material muitas vezes sendo vista com desconfiança por aqueles que enfatizam a importância do amor e da solidariedade. Atividades econômicas têm sido frequentemente abordadas de forma externa, como denúncia de injustiças, pressão por correções ou ação social para paliar a pobreza e marginalização.
Incorporar solidariedade na economia
A economia de solidariedade propõe a introdução da solidariedade em todas as fases do ciclo econômico, de forma a incorporá-la na teoria e na prática da economia. Isso significa que a solidariedade não deve ser vista apenas como algo complementar ou corretivo à atividade econômica, mas sim como uma parte intrínseca e transformadora da mesma. Dessa forma, surgem diversas formas e modos de organização econômica, incluindo empresas solidárias, políticas econômicas solidárias e consumo solidário.
Embora exemplos de solidariedade já ocorram na economia, como negociações coletivas entre trabalhadores e sacrifícios feitos por alguns empresários para manter empregos, a economia de solidariedade propõe algo mais abrangente e estrutural. Trata-se de uma mudança de paradigma que visa incorporar a solidariedade em todas as esferas da atividade econômica, desde a produção até a acumulação de riqueza.
A economia de solidariedade não é um único modo definido de organização econômica, mas sim uma variedade de formas e modos que podem coexistir e se complementar. É importante destacar que a solidariedade não é apenas uma questão moral ou ética, mas sim uma estratégia econômica viável e eficaz para promover uma sociedade mais justa e equilibrada.
As duas dimensões da economia de solidariedade
A economia de solidariedade possui duas dimensões distintas. Por um lado, ocorre quando a solidariedade cresce nas estruturas e organizações da economia global através da ação dos indivíduos. Por outro lado, também é identificada em atividades, empresas ou circuitos econômicos específicos onde ela está presente de forma intensiva, e atua como elemento articulador dos processos de produção, distribuição, consumo e acumulação.
Esses dois processos se alimentam reciprocamente, onde um setor de economia de solidariedade consequente pode difundir a solidariedade na economia global e vice-versa. Para expandir esse modo da economia, é importante compreender profundamente a sua conveniência, oportunidade e necessidade. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos envolvidos em iniciativas deste tipo, conhecer suas motivações e caminhos pode estimular a apoiar e se juntar a eles.
Assim, a economia de solidariedade é vista como um espaço onde convergem diferentes caminhos e motivações, e os participantes trocam razões e experiências, com reciprocidade e enriquecimento mútuo. Portanto, conhecendo esses motivos e caminhos, é possível compreender mais ampla e profundamente essa forma de organização econômica e encontrar razões para participar dela.
O que sustentamos (…) é que a solidariedade se introduza na economia em si, que opere e atue nas diversas fases do ciclo econômico, ou seja, na produção, circulação, consumo e acumulação. Isto implica produzir com solidariedade, distribuir com solidariedade, consumir com solidariedade, acumular e desenvolver com solidariedade.
Luis Razeto
Capitulo I | O que é Economia de solidariedade (na íntegra)
Disponibilizamos aqui, de forma exclusiva e com a autorização do autor, a íntegra do primeiro capítulo do livro para descarga gratuita.
O livro completo Os caminhos da economia de solidariedade está disponível para compra a seguir. Você também pode fazer uma leitura prévia ou partilhar:
Luis Razeto Migliaro é um intelectual chileno, Professor de Filosofia, Licenciado em Filosofia e Educação e Mestre em Sociologia. É um dos principais teóricos da economia solidária, cujo conceito foi cunhado por ele.
Apresentação Simone Machado, da redação da Revista Pluriverso.
(*) Na síntese dos capítulos desta série é utilizada Inteligência Artificial generativa. Recomendamos sempre ler o texto na íntegra, em especial para pesquisas mais aprofundadas e trabalhos acadêmicos.