Por que a COP30 precisa da justiça intergeracional
A 30ª Conferência das Partes (COP30), que acontecerá em Belém, no Pará, em novembro de 2025, transcende a diplomacia climática usual. Ancorada na Amazônia, a conferência tem a oportunidade histórica de colocar a infância e a justiça intergeracional no centro das decisões. Para tal, é preciso reconhecer como a crise climática constitui também uma crise de direitos da criança.

Não é apenas uma questão moral; é uma necessidade urgente ditada por dados. A evidência empírica prova que os riscos climáticos são uma ameaça existencial e imediata para as novas gerações. Em 2024, 242 milhões de estudantes globalmente e 1,17 milhão de crianças e adolescentes no Brasil tiveram seu aprendizado interrompido por eventos climáticos.
Uma criança nascida em 2024, se o aquecimento global atingir 3°C, poderá enfrentar até cinco vezes mais períodos de seca e três vezes mais enchentes do que a nascida na década de 1970. Esta quantificação do futuro exige que o tema climático se torne uma prioridade absoluta para a sobrevivência infantil.
Em novembro de 2023 o instituto Alana apontou o por que precisamos de uma COP das crianças. Mesmo sendo as mais afetadas e sem ter qualquer responsabilidade pelo estado atual das coisas, as crianças não são ouvidas ou priorizadas nas discussões na Convenção das Partes. Ou seja, nas reuniões anuais da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC), na qual países membros tratam do tema e fecham acordos para frear o aumento da temperatura da Terra, diminuindo o impacto para as pessoas e o meio ambiente.

COP30: A voz da floresta e a sabedoria ancestral
A realização da COP30 na Amazônia adiciona uma camada de urgência e sabedoria. As comunidades amazônicas, incluindo os povos indígenas e tradicionais, são diretamente afetadas pela desregulação do clima. Suas crianças, mais vulneráveis aos riscos impostos pela seca e fumaça das queimadas, carregam o conhecimento ancestral de como viver em equilíbrio com a natureza.
É imperativo que a COP30 traduza o debate climático para as comunidades. É urgente garantir que as vozes dos povos indígenas e quilombolas sejam centrais nas decisões globais.
Se a conferência se propõe a ser inclusiva, ela deve ouvir a juventude que já atua na linha de frente da crise. O jovem amazônico e periférico precisa ser ouvido e não apenas perfis com trajetória formal e fluência em inglês.
Do simbolismo à ação: O desafio da inclusão
A Presidência brasileira da COP30 deu passos importantes que merecem destaque e aplausos:
- Proteção Social Inédita: Pela primeira vez na história da COP, a cidade-sede, Belém, implementou um plano específico de proteção e defesa da criança e do adolescente, visando coibir a exploração e a violência sexual em um contexto de megaevento.
- Reconhecimento Formal: A agenda oficial da COP30 inclui dias temáticos focados em “Educação, Cultura, Justiça e Direitos Humanos”. Além disso, o Balanço Ético Global (BEG), criado pela presidência, foi ampliado para incluir o diálogo com crianças e adolescentes.

No entanto, a verdadeira inspiração virá quando a conferência transcender a inclusão simbólica. O Mutirão das MiniCOPs , por exemplo, demonstra que as novas gerações estão prontas para serem os principais atores na construção de soluções ambientais. Suas propostas, como as 1.600 cartas entregues na Pré-COP, são um clamor ético resumido no apelo: “Salvem o nosso mundo”.
O caminho para a justiça intergeracional
O maior desafio é transformar o clamor ético em compromissos diplomáticos concretos. A negligência histórica é evidente: de 2006 a março de 2023, apenas 2,4% do financiamento dos principais fundos climáticos multilaterais foi destinado a projetos sensíveis à criança.
A juventude organizada tem propostas claras para a COP30:
- Educação no centro da resposta: Exigir que a educação climática e os direitos da criança sejam integrados como um requisito central nos Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e nas futuras Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
- Financiamento equitativo: O Balanço Ético Global deve ser traduzido em um compromisso forte para que os fundos climáticos criem cotas percentuais minimamente significativas – ultrapassando os 2,4% atuais – dedicadas a projetos liderados por jovens e sensíveis a gênero e idade. É crucial que fundos como o de Perdas e Danos integrem as necessidades específicas das jovens mulheres e sejam isentos de dívida para o Sul Global.
- Desburocratização: Promover uma auditoria dos processos de participação para que critérios como fluência em idiomas e experiência formal não atuem como barreiras de elite, garantindo que as vozes da base amazônica cheguem diretamente à Zona Azul.
Sim, o sucesso da COP30 na Amazônia será medido pelos acordos diplomáticos. Agora, o que fará de fato diferença, será sua capacidade de converter o discurso de inclusão em ação operacional. É tempo de reconhecer a criança como agente político e a voz de uma sabedoria ancestral, garantindo seu direito a um futuro seguro e resiliente.
Este artigo foi elaborado pela equipe editorial da revista Pluriverso com as seguintes fontes:
- Crianças e adolescentes na pauta climática: a urgência de incluí-los nas políticas e debates da COP-30 – UFSM, acessado em outubro 29, 2025.
- COP 30: para cada criança | UNICEF Brasil, acessado em outubro 29, 2025.
- COP30: Put children’s education at the heart of discussions – World – ReliefWeb, acessado em outubro 29, 2025.

