Ele bebe com a mão esquerda por um motivo bem simples: a sua mão direita está sempre à disposição do cigarro. Entre baforadas e longos goles, percebemos um ser irrequieto. Maieiro, como é conhecido nos botecos e livrarias, diz coisas do tipo: “Anchieta é coirmã de Cuba ”. E completa: “Um dia eu explico!”.
Rafael Maieiro escreve e edita livros, atualmente é um dos colaboradores da Rubra Produtora e Editora. Durante os cinco, oito ou noventa chopes tomados como mote para a elaboração deste brevíssimo perfil, ele revelou dois projetos. Poesias e contos, ambos no prelo.
Maieiro já acometeu os livros de poemas “Descursos” (FuturArte, 2011) e “As cores, a pedras e o tempo” (Autografia, 2016). Co-organizou, sendo também um dos autores, as coletâneas “Rio de Janeiro: alguns de seus gênios e muitos delírios” (Autografia, 2015); “Porremas” (Mórula Editorial, 2018), com Diego Barboza e Manuela Oiticica, e “Jumento com faixa” (Editora Viés, 2021), com Zeh Gustavo. Participou do livro “@Normal: o mundo pós-pandemia segundo a literatura” (Literatura Cotidiana, 2020).
A seguir vai uma amostra, tão aleatória quanto organizada, dos seus textos.
Descursos (futurArte, 2011)
não tem vergonha? papel é todo ouvido ou: papel São Todos Ouvidos desgalaram o galo da manhã {galicidade} engalaram o abridor de latas [Trecho do poema sem arrepiar, mas nos pelos do antebraço]
Rio de Janeiro: alguns de seus gênio e muitos delírios (Autografia, 2015)
No dia da entrega do artigo e… Não escrevi nada. Algumas ideias, nenhuma linha e uma conclusão: o doutor Aldir Blanc Mendes é um gênio! Tento mais algumas digitadas e a imagem da cerveja gelada gruda na minha cabeça. É o primeiro sintoma. [Trecho do conto O artigo que não escrevi sobre Aldir Blanc]
As cores, as pedras e o tempo (Autografia, 2016)
Cabra Preta
O fato é faca ou pedra de João Cabral A dor não se cura na orgia, nem na aspirina, muito menos no poema Ou fura e rasga o tecido da vida, ou, mineral, é gasta pelo tempo Os amores só são inevitáveis no outro (Ele, de óculos e de camisa preta, pede um café e toma um Rivotril. O silêncio da padaria às seis horas da tarde de domingo o espanta. Bebe uma cachaça e imagina um raio de sol, enquanto lá fora a noite cai. Ele.)
Porremas (Mórula Editorial, 2018)
Um fantasma bêbado mira o alvo com um estilingue; tendo como munição uma amêndoa
bebi como quem corre pra dentro como quem foge de um ponto mergulhando no ponto tentando inventar asterisco andei em reta fina de paradoxo
Jumento com faixa: deboches e antiodes ao fascismo (Editora Viés, 2021)
À Vitória final
hienas repercutem às gargalhadas quatro tiros na sua cara, a dela nem imaginam agora assoviam manhãs as panteras espelhadas de tanta negrura na pele
Vinícius Gonçalves imigrou do sul para ser reeducado (maoísticamente) em Vila Isabel e São Gonçalo. Fez Letras na Uerj, atuou como produtor cultural e hoje é comunista de carteirinha (de qual partido, faz mistério). É um dos (orgulhosos) fundadores do Havana Futebol e Cana.