Visto de cima, o telhado da ONG Comunidade dos Pequenos Profetas se destaca como um ponto de esperança. Uma esperança produtiva e ecológica que beneficia mais de 1.500 pessoas das comunidades em Joana Bezerra, Coque e Avenida Sul, Roque 2 e Roque 3, no Recife, em Pernambuco.
O projeto “Telhado Eco Produtivo: semeando novos horizontes” fica em cima da sede da ONG que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social há mais de 30 anos. Na horta, são produzidos couve, rúcula, pimentão, coentro, tomate cereja e diversos tipos de alface.
Segundo Demetrius Demetrio, gestor do projeto, o telhado eco produtivo é um espaço de produção de alimentos e de acolhimento.
“Esse projeto criou ações muito interessantes. Primeiro, porque ele abre essa possibilidade de uma boa alimentação para quem não tem o poder de compra ou que não conhece esses produtos. Segundo que ter esses produtos na alimentação é uma ferramenta de transformação social, como eu falei ‘quem come mal, se enxerga mal’. Terceiro, que empodera as pessoas; e, quarto, porque tem as mães e as mulheres que participam”.
Trata-se do maior telhado eco produtivo orgânico do Nordeste. O Projeto Telhado Eco Produtivo tem como missão democratizar o acesso aos conceitos e práticas de produção orgânica e alimentação saudável em comunidades pouco desenvolvidas do Recife. Além de incentivar ações de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental.
O espaço autossustentável de 400 metros quadrados, inaugurado em 2016, abriga uma horta orgânica, montada em uma estrutura de madeira certificada, e que conta com um sistema de irrigação por gotejamento automático, alimentado por painéis solares. São cultivadas verduras, ervas condimentares, hortaliças folhosas e talosas, que geram uma produção anual estimada em meia tonelada de alimentos.
Jovens e suas famílias aprendem sobre agroecologia
O telhado funciona como uma oficina de conhecimento autossustentável, onde os jovens atendidos pela ONG e seus familiares são responsáveis pela produção e colheita dos orgânicos. Além disso, os participantes recebem também apoio técnico para produzir suas próprias hortas em casa, utilizando as mudas do telhado plantadas em garrafas PET retiradas do Rio Capibaribe.
O casarão ainda conta com um amplo refeitório, com capacidade para quase 100 pessoas, e uma cozinha-apoio para aulas de gastronomia orgânica e alimentação saudável.
A Comunidade dos Pequenos Profetas beneficia mais de 1500 pessoas das localidades atendidas, direta e indiretamente. De acordo com Demetrius Demetrio, apesar da relevância socioambiental dos projetos e do reconhecimento mundial, ainda há pouca visibilidade dentro do território pernambucano. Para ele, as ações realizadas buscam construir uma sociedade mais humanizada para as futuras gerações e representam uma importante alternativa para a sobrevivência social e a valorização das pessoas que dependem desses trabalhos.
“Quem dá essa aula é o nosso público, seres humanos talentosos, mas que são invisíveis para a sociedade e o poder público. Então, essa oportunidade de conhecer o trabalho deles quebra um pouco a discriminação social, acaba com aquela imagem negativa, principalmente das crianças e mulheres que estão em situação de empobrecimento social. O objetivo maior dos Pequenos Profetas sempre será o de reescrever as histórias de vida das pessoas mais vulneráveis. É dessa forma que nós podemos evitar que esses jovens e essas mulheres entrem para o mundo das drogas, da prostituição, da criminalidade”.
Demetrius Demetrio
Além de combater a insegurança alimentar com a produção orgânica de alimentos saudáveis e de servir como ponto turístico por sua beleza natural e sua vista da cidade, o telhado também oferece lições de educação ambiental para os visitantes, ensinadas pelos próprios participantes do projeto.
Cooperativas socioambientais
A base socioambiental é um dos principais pilares da Comunidade dos Pequenos Profetas, que desenvolveu, além do Telhado Eco Produtivo, cooperativas de mulheres, que realizam ações de recolhimento e ressignificação de materiais retirados do rio Capibaribe.
Para gerar renda extra para as famílias, as mulheres tiram proveito da quantidade de lixo despejado na cidade para criar objetos artísticos utilizáveis e vender esses produtos na Loja Eco Produtiva, que conta com espaço físico, no térreo do casarão, e um espaço virtual no Instagram.
Uma dessas cooperativas é o Coletivo de Mulheres “As Minhoqueiras” na produção de composteiras orgânicas residenciais. Elas são adaptáveis tanto para casas como apartamentos e customizados para compor a decoração tanto de uma casa quanto de um apartamento, perfeita para quem já tem horta ou para quem quer iniciar a prática. O objetivo é trazer um retorno financeiro para estas mulheres chefes de famílias, mães das crianças atendidas na CPP.
A outra se chama “Mãos Talentosas”, que também utiliza resíduos do rio e os transforma em vasos artísticos para o cultivo de hortas e plantas ornamentais. O primeiro passo consiste na ida das mulheres ao manguezal para a coleta do material (baldes plásticos, garrafas pet, garrafas de desinfectante, amaciante, de sabão e outros), retirando do meio ambiente resíduos plásticos descartados incorretamente e dando a eles um destino especial, o que as mulheres chamam “do lixo ao luxo”.
A CPP também possui uma ação conhecida como “Coque Costura”, que reaproveita tecidos e peças de roupas descartados nas ruas, e vende os materiais produzidos na loja da organização. Segundo Demetrius, o valor da venda de cada produto é destinado integralmente à mulher que o produziu.
“Como as mulheres nesses projetos costumam dizer, são produtos bons, que saem do lixo ao luxo. As pessoas que compram os produtos estão, na realidade, ajudando nosso projeto. Pois comprar os materiais feitos por nosso público é uma forma de contribuição para a sobrevivência social dessas famílias e para o cuidado com o meio ambiente”.
Demetrius Demetrio
Dificuldades na pandemia
No auge da pandemia, o projeto se tornou fundamental para alimentar pessoas que perderam suas rendas . A pandemia de Covid-19 impactou fortemente a população que vive em situação de vulnerabilidade social, em todo o país. Trazendo também o aumento de velhos problemas como a insegurança alimentar e a violência doméstica.
Em época da pandemia, o projeto se tornou fundamental para alimentar pessoas que perderam suas rendas.
“Tínhamos duas opções com a pandemia: fechar ou seguir. No começo, três pessoas desistiram. O número de pessoas aqui na porta da instituição triplicou. É muita gente passando necessidade porque vive em empregos informais”
Nesse período, a Comunidade dos Pequenos Profetas conseguiu dar acesso à alimentação de qualidade a, aproximadamente, 700 famílias, além de doações que resultaram na distribuição de mais de 40 toneladas de alimentos.
Mais que uma horta
Na Comunidade dos Pequenos Profetas, os meninos e meninas atendidos têm acesso a refeições diárias, atividades socioambientais, educativas, artísticas, culturais, esportivas e gastronômicas. Além de contarem com acompanhamento e assistência psicológica, social, jurídica e nutricional.
O Telhado Eco Produtivo também está aberto para receber visitas agendadas, e pode receber até 50 pessoas. Mais que alimentar pessoas, o local virou um museu a céu aberto. “A gente tem visita aqui de estudantes de escolas e universidades. O projeto é arrojado, chama atenção”, comenta ele, orgulhoso.
Conheça toda história da ONG Comunidade dos Pequenos Profetas na entrevista abaixo:
Este artigo foi produzido pela redação da Revista Pluriverso a partir dos sites:
