Aconteceu num dia em que meu estresse estava num nível bem mais elevado do que o normal. Sou uma pessoa 24/7, que não se conforma em ficar sem notícias, que quer explicação e solução para todos os problemas, que precisa estar atenta, sempre alerta, 24 horas, sete dias da semana.
Como se pode imaginar, em alguns momentos o corpo reclama. Felizmente, com o passar dos anos, tenho sido mais responsável e tenho cuidado mais de mim. Sobre isso falo depois. Por ora, quero compartilhar o dia em que eu, à época estreando num fracassado projeto de negócios, quase pifei.
Não me lembro se foi zonzura, dor de cabeça ou qualquer outro sintoma. Sei que não estava bem e liguei para o Mauricio Tatar, meu médico, sobre quem já falei aqui neste espaço (autor do livro “Cuidar de Si” , Editora Mauad, que tem meu texto). Depois que eu desfiei meu rosário de queixas por telefone, Tatar marcou uma consulta e disse, antes de desligar:
– Respira! Não se esqueça de respirar!
Não fosse a relação médico/paciente de confiança mútua que temos, eu teria feito apenas um muxoxo à observação final, e seguido em frente. Mas, além do muxoxo, prestei atenção à sugestão e fiz o que ele propunha.
Nas consultas, que sempre geram muita reflexão, Tatar já havia conversado sobre o papel da respiração na saúde da gente. Coisa difícil porque é comum respirar no automático, sem perceber. Agora, por exemplo, enquanto está lendo este texto, você já reparou na sua respiração?
Conversa daqui, registra dali, fato é que eu sabia, por ter ouvido dele em outras ocasiões, que a sugestão – “Respira!” – ia além de buscar o ar de forma quase ansiosa, como eu devia estar fazendo naquela tumultuada ocasião.
Respirar começa com a soltura do ar, de forma lenta e profunda. Cerca de cinco segundos depois, só então é hora de inspirar. Foi o que fiz. E foi o que bastou para eu sentir como estava completamente travada, como se meus órgãos estivessem colados uns aos outros. A tal ponto, que foi difícil conseguir exalar. Mas quando busquei o oxigênio, segundos depois, senti um bem-estar incrível.
A situação estressante ainda estava lá, mas eu fiquei cuidando de mim, ao menos por momentos. E isto foi revolucionário para aquele instante e para os seguintes, tanto que não me esqueci da sensação até hoje.
Recuperei essa história na memória quando, dias atrás, decidi incorporar um exercício mais completo na minha rotina. Inscrevi-me numa aula de natação num clube grande, aqui perto de casa, que tem uma piscina semiolímpica. Na hora do cadastro, é claro, busquei uma turma de iniciantes. Aprendi a nadar já bem adulta, e há mais de uma década não treino.
No dia e hora marcados, lá estava eu, toda paramentada, pronta para estrear na piscina. Até que não fui mal, tanto que o professor se sentiu à vontade para relaxar um pouco e me dizer, duas aulas depois, que eu já estava apta a ir além. Isto significava nadar a piscina toda, em vez de ir só até a metade. São 25 metros. Quatro chegadas: cem metros. Eu conseguia, meio aos trancos e barrancos, mas já estava me achando.
A vida seguia assim, até que eu viajei para fazer um trabalho. Foi bom, rendeu bem, e eu me cansei. Voltei num dia e tive aula de natação no dia seguinte. O cansaço tinha provocado uma certa sensação de resfriado só nas vias aéreas superiores. Achei que seria o momento ideal de exercitá-las. E lá fui eu para a piscina.
Touca, máscara, protetor de ouvidos e.. tibum. Ao longe, ouvi a voz do professor: “Quatro chegadas em crawl”. Lá fui eu. Mas, no meio da piscina, cadê o ar? Engoli água, busquei a borda, e continuei tentando e tentando. A dificuldade não era mecânica, dos movimentos, mas me faltava o ar, simples assim.
A sensação foi tão desagradável que me levou a fazer uma reflexão a respeito do meu resultado na piscina e, noves fora, percebi que as aulas me deixavam mais cansada do que com a sensação boa de ter praticado um exercício. E foi meu último dia de aula na piscina semi-olímpica.
Mas não desisti de praticar na água: hoje estou numa ótima hidroginástica, piscina pequena, que me dá a chance de praticar natação quinze minutos/dia. E está de bom tamanho.
Mas, como sempre faço, segui pensando. No caso, o ato de respirar passou a ser meu mote. Lembrei-me do capítulo do “Cuidar de Si” ao qual dei o título “Nos movimentos, o impulso de vida”. Lá está o alerta: com o passar do tempo, os adultos vão desaprendendo a respirar com o abdômen, passam a fazer uma respiração torácica, rápida, que demonstra ansiedade. É só reparar como respiram os bebês: a barriguinha se enche de ar e cresce, depois diminui à medida em que o ar vai saindo.
“Nossa respiração se torna mais curta, e com isso vamos acumulando gás carbônico. Quanto mais gás carbônico, menos espaço temos para o oxigênio. Afinal, dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo”.
Mauricio Tatar
Marquei com Tatar uma conversa para falarmos só sobre respiração. E compartilho aqui alguns bons esclarecimentos que ele me deu. Para início de conversa, vale desmitificar: o ar que respiramos é uma mistura gasosa que contém 21% de oxigênio, 78% de nitrogênio e 1% de argônio, um gás nobre.
“Análises feitas com o ar expirado constataram que só 6% do oxigênio inspirado foram absorvidos”, explica o médico.
A explicação é simples: respiramos ar poluído. Como não temos oxigênio suficiente nos centros urbanos, liberamos também pouco gás carbônico. Resultado: respiração curta, sensação de angústia. Era exatamente assim que eu me sentia quando, lá atrás, liguei pedindo ajuda.
Uma coisa puxa a outra, e as boas reflexões levam à saúde. Vamos ouvir quem entende:
“Quando uma pessoa diz que está com falta de ar e não consegue respirar, na verdade ela está inspirando pouco oxigênio. Existe uma troca gasosa, para eu inspirar o oxigênio, eu preciso eliminar (expirar) gás carbônico. Se eu não elimino muito gás carbônico, pouco oxigênio irá entrar. Para você absorver o oxigênio, o ar precisa ser filtrado e aquecido. E só o nariz faz isso”.
Um pensamento vai puxando o outro… até que chego à minha fonte de estudos, o ecosociodesenvolvimento. Em outras palavras, neste caso, desenvolvo a reflexão sobre como as questões climáticas impactam a saúde humana.
No ano passado, a OMS revisou suas Diretrizes de Qualidade do Ar e concluiu que “a base de evidências para os prejuízos que a poluição do ar causa ao corpo humano vem crescendo rapidamente e aponta para danos significativos causados até mesmo por baixos níveis de muitos poluentes do ar.”
A dedução de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, é que precisamos, com urgência, “avançar mais rapidamente em direção a um mundo muito menos dependente de combustíveis fósseis”.
Tornando mais explícito o alerta do executivo da OMS, é preciso avançar nas pesquisas e desenvolvimento para descobrir novas fontes de energia e investir nelas. Mas isso precisa de uma concertação entre empresas e consumidores, do contrário vamos continuar escarafunchando a terra em busca de petróleo até… sei lá até quando.
Enquanto isso, e enquanto nos sobra o oxigênio, o melhor investimento será mesmo em respirar direito para ganhar mais saúde. É no que eu acredito, por isso compartilhei com vocês esses pensamentos.
Amelia Gonzalez é jornalista, foi editora por nove anos do caderno Razão Social do jornal ‘O Globo’ e colunista do Portal G1, também da Globo. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde escreve sobre desenvolvimento sustentável e colabora na Revista Colaborativa Pluriverso e aqui, na revista Entrenós, uma parceria da Casa Monte Alegre e a Pluriverso.
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