ISSN 2764-8494

ACESSE

Conectividade indígena
CyberCultura, T.I. e colabs
Seu tempo de leitura: 4 minutos

Conectividade indígena: Um paradoxo digital

Esta matéria marca o início da colaboração da Revista Pluriverso com a Radio Yandê e o comunicador Anápuàka Muniz Tupinambá Hãhãhãe. Unimos forças para ampliar o alcance e o impacto da cultura digital indígena.

Relatório de Dados sobre Povos Indígenas no TIC Domicílios 2024

Este relatório foi elaborado a partir da análise do documento “Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2024 – Livro Eletrônico” (doravante, “Relatório”). O seu objetivo é o de coletar e filtrar dados diretos e indiretos referentes aos povos indígenas

A análise do Relatório indica que, embora a categoria indígena esteja incluída na variável sociodemográfica “cor ou raça”, não há um detalhamento dos dados quantitativos específicos para essa população na seção principal de “Análise dos Resultados”.

No entanto, o Relatório oferece informações contextuais e qualitativas significativas, especialmente nos artigos que o compõem. Estes abordam a relação entre povos indígenas, conectividade e questões socioambientais.

Conectividade indígena um paradoxo digital

Dados Diretos (Variável Sociodemográfica)

A variável “cor ou raça” utilizada na pesquisa TIC Domicílios inclui a categoria indígena, conforme a definição metodológica:

“cor ou raça: corresponde à divisão em branca, preta, parda, amarela ou indígena”[1].

Todavia, apesar da inclusão na metodologia, a seção de “Análise dos Resultados” que discute a Conectividade Significativa (CS) por cor ou raça apresenta dados desagregados apenas para a população branca, preta e parda. Assim, ela não detalha a proporção para a população indígena. Isso sugere que a amostra para essa categoria pode ser estatisticamente insuficiente para divulgação separada no corpo principal do relatório.

Dados Indiretos e Contextuais (Artigos)

Os dados mais relevantes sobre povos indígenas se encontram nos artigos que aprofundam temas específicos, como redes comunitárias e governança climática.

1. Redes Comunitárias e Inclusão Digital

O artigo “Como garantir a segurança online e o cuidado digital dos usuários de redes comunitárias” [1] fornece dados sobre a presença de povos indígenas no contexto das redes comunitárias de Internet no Brasil:

  • Localização das Redes: 32,5% das redes comunitárias mapeadas estão localizadas em aldeias ou territórios indígenas [1].
  • Gestão das Redes: 20% dos gestores dessas redes comunitárias são indígenas [1]

De acordo com os dados, as redes comunitárias são um vetor importante de conectividade em territórios indígenas. Certamente, o impacto social disso é relevante, todavez que esses territórios são historicamente caracterizados por maior vulnerabilidade social e exclusão digital.

2. Protagonismo e Governança Climática na Amazônia

O artigo “Tecnologias de informação e comunicação e governança climática justa no Brasil: uma inspiração que vem das Amazônias” [1] destaca o papel das TIC e o protagonismo dos povos indígenas em questões de monitoramento territorial e justiça climática:

  • Vulnerabilidade e Conectividade: O artigo ressalta que as populações indígenas estão entre as mais impactadas pela crise climática e lidam com um “vazio informacional” decorrente dos desafios de conectividade significativa [1].
  • Uso de TIC para Proteção Territorial: A proteção dos territórios indígenas se vê fortalecida pela integração de tecnologias digitais e saberes tradicionais, com destaque para duas iniciativas:
    • Plataforma Hãmugãy: Desenvolvida pela Conafer, capacita indígenas, ribeirinhos e pequenos agricultores a monitorar seus territórios, registrando ocorrências ambientais com fotos e coordenadas GPS [1].
    • Gemti (Gerência de Monitoramento Territorial Indígena): Dirigida pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), busca assegurar a segurança informacional e a autonomia dos povos indígenas na gestão de seus territórios, organizando uma rede de monitoramento com representantes indígenas nos nove estados da Amazônia Legal [1].

Além disso, o texto também aborda a ameaça representada pelo uso de tecnologias como a Starlink por garimpeiros ilegais em Terras Indígenas (como a Yanomami). Entretanto, também sobre o uso da mesma infraestrutura por redes comunitárias em territórios indígenas para denunciar violações de direitos territoriais e humanos. Diga-se de passagem, que os mebros dessas redes comunitárias, fazer um uso, comumente, de forma legalizada [1].

Conclusão

O Relatório “TIC Domicílios 2024” não oferece uma desagregação quantitativa direta sobre o acesso e uso de TIC pela população indígena no Brasil. Entre outras, destaca-se a ausência de dados como o percentual de usuários de Internet ou o nível de Conectividade Significativa. No entanto, ele fornece um rico contexto qualitativo que posiciona os povos indígenas como atores centrais na discussão sobre:

  1. expansão da conectividade em áreas de alta vulnerabilidade, por meio de redes comunitárias.
  2. uso estratégico das TIC para a defesa territorial, a segurança digital e a governança climática na Amazônia.

Em resumo, a ausência de dados quantitativos específicos na análise principal sugere a necessidade de estudos complementares ou de uma amostra maior para essa população. Só assim se poderia dimensionar de modo mais eficiente, a desigualdade digital enfrentada pelos povos indígenas.

Fontes:

[1] Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR. (2025). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2024 – Livro Eletrônico. Comitê Gestor da Internet no Brasil. (TIC Domicílios 2024 – Livro Eletrônico)

O texto aqui apresentado se pauta no documento oficial da CETIC.br:

Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2024.


(*) Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Radio Yandê, reproduzido aqui com a devida autorização. Foram aplicadas alterações pela equipe editorial da Pluriverso coletivo. Acesse o conteúdo original aqui

Anápuàka Muniz Tupinambá Hãhãhãe é um influente comunicador indígena, fundador da primeira rádio web indígena do Brasil, a Rádio Yandê. Ele é um defensor da cultura digital indígena. Atuando como empreendedor, jornalista e ativista na promoção de narrativas e tecnologias para os povos originários, busca construir pontes entre a ancestralidade e o futuro através da comunicação.

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