Por Beatriz Cruz
O Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP), através do Projeto Laboratório de Livre Criação Midiática (LabLivre), mudou a rotina dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa no Degase – Ilha do Governador e no CRIAAD Niterói. Oficinas de arte, tecnologia e produção de mídias digitais estimularam os jovens a se expressarem em diferentes linguagens da Arte, e o resultado foi uma exposição que reflete a busca e o encontro de olhares sensíveis de quem vive a internação.
Os trabalhos estão expostos de forma permanente nas respectivas unidades.
“Tia, eu gosto muito de natureza“, disse um dos internos que escolheu fotografar o céu e as árvores. Já outro participante, focou a atenção em insetos minúsculos, aprofundando seu interesse sobre diferentes animais invertebrados sob o acompanhamento de monitores.
As oficinas terminavam sempre com uma troca, na qual os educadores descreviam as sensações que cada trabalho remetia. Segundo Noale Toja, coordenadora pedagógica do CECIP, esse retorno conferiu segurança para que eles pudessem ir além em suas pesquisas e expressões.
“Muitos nunca tocaram num laptop e, no momento da oficina, há uma enorme satisfação em ter um em mãos, com seu próprio nome. Eles trazem questões muito particulares, históricos de violência, infância sem o básico, quanto mais um computador. Notamos que em uma das dinâmicas de busca de imagens por aproximação e distanciamento, os olhos voltam-se para o externo, querem retratar a natureza, o céu, as casas, o mundo que ficou lá fora. Buscam a liberdade através da virtualidade. A sensibilidade aflora e as telas tornam-se suportes para processos criativos carregados de subjetividade”, afirmou a coordenadora.
Simone Valadares, psicóloga com atuação há mais de 11 anos no CECIP, também fez parte do projeto. Para ela, a arte e a linguagem usada no Lablivre conseguiram romper uma resistência inicial, envolvendo a turma e transformando comportamentos em curto espeço de tempo.
“Percebemos que algumas atitudes de desconfiança, cansaço e desinteresse, deram lugar a olhares curiosos, atentos, observadores e criativos, durante as atividades. Cada um deles, no seu ritmo, foi descobrindo novas maneiras de olhar e ver ao seu redor a natureza, a fazer descobertas, a conhecer quem mais habita aquele espaço, externo e interno, e a contar pequenas histórias. Ouvimos atentos como as histórias têm seus começos, seus contos e recontos… e nós estamos na torcida por novos recomeços!”,
afirma Simone.
O tema para os trabalhos foi livre, sem grades para o pensamento e a criatividade. Por isso, a Mostra é composta por materiais em diferentes formatos e linguagens: de clipes musicais a fotografias.
Para envolver os 15 participantes nas atividades, os educadores e pedagogos do CECIP utilizaram metodologias fundamentadas na escuta ativa, diálogo e interação, princípios preconizados pelo educador Paulo Freire, um dos fundadores da ONG, que trabalha há 35 anos com facilitação de mudanças sociais e educacionais.
Beatriz Cruz é jornalista e trabalha na área de Comunicação Social há mais de 15 anos. Sua atuação abrange a Comunicação em diferentes perspectivas, sempre alinhadas aos propósitos dos diferentes tipos de organizações pelas quais passou. A maioria voltada para a Educação e Direitos Humanos.
Já que chegaste até aqui, queremos te convidar a conhecer melhor a Pluriverso. Além dos conteúdos da Revista Colaborativa Pluriverso, você encontrará Cursos, seminários, eventos, oferecidos pela nossa rede de Anfitriãs/ões além de Fóruns públicos e grupos de trabalho e debate autogestionados, ligados ou não a organizações e processos formativos. Sim, Você pode criar o seu.
Vem fazer parte dessa rede diferente, de gente com vontade de fazer do mundo um lugar melhor.