ISSN 2764-8494

ACESSE

Diálogos Transversais
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Escola de Frankfurt: 100 anos de pensamento crítico

O Instituto de Pesquisa Social, internacionalmente conhecido como “Escola de Frankfurt”, foi fundado há 100 anos. Seus representantes mais importantes influenciam até hoje nossa compreensão da sociedade. Seu legado possivelmente mais significativo é a mensagem de que um outro mundo é possível.

No primeiro semestre de 1923, era fundado em Frankfurt um instituto de envergadura internacional que viria a marcar as teorias sociais de esquerda até os dias de hoje: o Instituto de Pesquisa Social (IfS, na sigla em alemão). Ali esteve reunido o grupo de pesquisadores cujas obras e ideias vêm sendo desde então ensinadas exaustivamente nas disciplinas de Ciências Sociais das universidades.

Acima de tudo Theodor W. Adorno, mas também Max Horkheimer, que assumiu a direção do Instituto em 1930. Bem como o teórico da cultura Walter Benjamin, o psicólogo social Erich Fromm e o sociólogo Herbert Marcuse deram rosto ao Instituto, cujo legado é sobretudo um: o reconhecimento de que um outro mundo é possível – e sua insistência em questionar continuamente nossa estrutura social.

Pesquisa sobre marxismo em vez de nazismo

Era uma época singular quando o Instituto de Pesquisa Social foi fundado, há 100 anos, como instituição independente de pesquisa da Universidade Goethe de Frankfurt. À sombra da República de Weimar, já começava a ascensão do nazismo – dois anos antes, Adolf Hitler havia sido nomeado líder do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP, na sigla em alemão).

Alguns anos mais tarde, começariam confrontos violentos nas ruas entre comunistas e nacional-socialistas. A orientação original do Instituto de Pesquisa Social deve ser compreendida também neste contexto: financiada pela fundação privada do marxista confesso Felix Weil. A instituição tinha por meta pesquisar o movimento trabalhista e questionar a sociedade capitalista. Concretamente, tratava-se de dar continuidade às teorias marxistas – tendo por base a ciência, independentemente da política.

A perspectiva, contudo, viria a mudar ao longo dos anos seguintes: no lugar do marxismo ortodoxo, o enfoque passou em breve para uma crítica sociológica, filosófica e interdisciplinar da sociedade. Os pesquisadores ocupavam-se do capitalismo, da conduta racional e das razões pelas quais as pessoas sucumbiam aos apelos das ideologias fascistas. Temas que correspondiam à situação da sociedade daquela época – mas não necessariamente às relações políticas de poder.

Sendo assim, os pesquisadores desses primórdios do Instituto não puderam continuar em Frankfurt. Pouco depois que Hitler tomou o poder, o Instituto foi fechado sob acusações de “atividades subversivas”. A maioria dos funcionários, muitos deles judeus, emigraram para os EUA e lá fundaram novamente um Instituto de Pesquisa Social – desta vez nas instalações da Universidade Columbia, em Nova York. Em 1949, Adorno e Horkheimer retornaram à Alemanha e, com isso, o Instituto também voltou para Frankfurt.

Teoria Crítica: análise das relações de poder

Nesse ínterim, surgiu a teoria que entrou para a Sociologia como “Escola de Frankfurt”: a Teoria Crítica. Mencionada por Horkheimer pela primeira vez em um ensaio de 1937, ela seria em breve adotada pelos intelectuais da Escola de Frankfurt. Em seu cerne está uma análise interdisciplinar da sociedade que vai além dos dogmas marxistas da economia política e envolve também questões psicossociais. Hoje, essa abordagem seria descrita como visão integral das relações sociais de poder.

A Teoria Crítica passou por um ápice durante os protestos estudantis no fim dos anos 1960, quando estudantes da época ambicionavam um marxismo menos dogmático. Os intelectuais do Instituto de Pesquisa Social, contudo, mantiveram-se alheios ao movimento, rejeitando a rebelião dos jovens contra a sociedade majoritária e sobretudo a defesa da violência por alguns deles.

Entretanto, os objetivos dos dois lados eram evidentemente compatíveis: a superação da barbárie nazista e a libertação do ser humano das relações capitalistas de poder. Naquele momento, o filósofo social Jürgen Habermas se tornou o líder intelectual da segunda geração da Escola de Frankfurt. Hoje, com mais de 90 anos, ele ainda continua sendo chamado ao debate público em função de sua crítica das relações sociais.

Mercado, bem comum e comunidade: temas que continuam relevantes

Os pesquisadores da Escola de Frankfurt abordaram muitos temas, entre eles arte, literatura, música, política, ciência e cultura. Um aspecto importante de seu trabalho foi a crítica da cultura dominante e da indústria do entretenimento, que eles consideravam um meio de controle social. Outro aspecto relevante sempre foi também a análise de como o capitalismo funciona.

Os teóricos da Escola argumentavam que o capitalismo é uma fonte de desigualdade social e opressão, que leva à alienação e à falta de liberdade.

Eles criticavam a sociedade de consumo, na qual os interesses do mercado se impõem cada vez mais às necessidades individuais, e postulavam uma forma alternativa de atividade econômica voltada para o bem comum e para a comunidade. Temas que até hoje – ou melhor, sobretudo hoje – permanecem atuais, mesmo considerando que os protagonistas da Escola de então abdicaram de noções próprias de um mundo ideal e se contentaram com a crítica das relações vigentes – uma postura que gerou às vezes a acusação de que trabalhavam destrutivamente.

Até hoje, o Instituto de Pesquisa Social, de acordo com seu diretor Stephan Lessenich, conduz pesquisas, faz análises da sociedade e desenvolve modelos sociais no espírito da Teoria Crítica. Trata-se, segundo ele, de moldar o futuro e questionar: “O que está, de fato, acontecendo no presente? Que rumos a sociedade está tomando?”. Atualmente, o Instituto dedica-se a temas como democracia na era da digitalização, papéis de gênero e migração.

Na percepção de Lessenich, a Escola de Frankfurt deixou como legado uma posição crítica frente às relações dominantes e apontou que “um outro mundo é possível”. E também “que as restrições sociais com as quais nos deparamos por toda parte no nosso dia a dia são, em última análise, restrições autoimpostas: tudo isso ainda se aplica nos dias de hoje, inspirando as pesquisas atuais no Instituto”. Neste contexto, segundo Lessenich, impera também uma tarefa: “A de colocar as grandes questões, que muita gente nem sequer quer ouvir, quanto menos ir atrás de respostas para elas”.


Wolfgang Mulke é correspondente freelancer de diversos jornais e escreve sobretudo sobre economia, ecologia, sociedade e assuntos ligados à política de consumo. Vive em Berlim.

Esta matéria foi publicada inicialmente na Revista Humboldt, do Goethe-Institut na América do Sul.

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