O debate sobre cabelo crespo vai além da estética, pois para pessoas pretas é um símbolo de resistência, empoderamento, aceitação cultural e identitária. Durante muito tempo, mulheres negras passaram pela “ditadura da chapinha”. Isso acontecia para terem uma validação, respeito e afeto, acabavam se submetendo a procedimentos químicos para alisar o cabelo.
Historicamente falando
Na década de 70, a luta do movimento negro estadunidense, que ficou conhecido como “Black Power”, se espalha por outros países, como o Brasil, com o intuito de lutar pela valorização, aceitação e combater o preconceito social dos cabelos crespos. O debate sobre o tema é recente no Brasil, mas a luta vem desde o século XVI, quando os primeiros escravizados chegaram no Brasil.
Para enfrentar o processo de transição capilar, muitas mulheres negras acabam utilizando das tranças e penteados africanos, que carregam consigo toda uma cultura de um povo. Além disso, existe um processo dentro de outro. Não é apenas uma transição de cabelo, e sim uma transição de reflexo ao espelho, de autoimagem.
O termo “cabelo de preto”, por muito tempo foi usado de inúmeras formas como meio de diminuir e inferiorizar um grupo de pessoas, essas as quais carregam consigo marcas históricas e sociais do último país das Américas à abolir a escravidão.
O poder da auto aceitação
Com isso temos o caso da Larissa Moura, uma mulher negra de 18 anos e estudante de Serviço Social na Universidade Federal Fluminense. Larissa conta que quando deixou para trás o uso de relaxamentos químicos no cabelo, e passou a deixar seu cabelo natural. Ela sofreu diversos ataques racistas e começou a se esconder nas tranças, durante esse período.
As tranças para Larissa e para muitas pessoas negras, além de todo resgate de ancestralidade funcionam como uma espécie de escudo de proteção ao preconceito e uma forma de esconder seus crespos. As tranças se tornam assim mais aceitáveis do que o cabelo black power, fazendo com que haja um aprisionamento do mesmo e a entrega de toda a autoestima das mulheres negras nesse método. Uma mudança para além disso, é o empoderamento, provocado pelas mesmas, o recomeço de um processo de aceitação e construção de sua autoestima.
A jovem relembra da falta de representatividade que sofreu durante a sua vida. Isso desde a ausência de pessoas negras em posições de destaque até a falta de produtos para o seu tipo de cabelo. “A mídia e empresas de beleza se direcionam aos cabelos cacheados em relação a transição e quando se diz respeito aos crespos, há também uma quebra de realidade ao final do processo ao se dar com um cabelo crespo sem definição. O meu cabelo representa mais do que um penteado, ele é resistência, luta e coragem que enfrento todos os dias!”, relatou.
Larissa Moura e Zuri Moura são jovens estudantes, fizeram parte do projeto Jovens Comunicadores da Agência Jovens Comunicadores e são colunistas da Coluna de Terça. A Agência Jovens Comunicadores desenvolve o seu trabalho na Plataforma Pluriverso.
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