Dicionário Marielle Franco mostra caso emblemático de mapeamento comunitário. Propõe antropofagia digital: combater apagamentos e ressignificar tecnologias livres através de ativismo local, escuta coletiva e desejo de transformação.
Por Mapeadores Comunitários do Preventório
Os mapas historicamente foram construídos por especialistas. Inicialmente produzidos por viajantes e depois por cartógrafos, com advento das tecnologias digitais atualmente são produzidos por satélites e complexas infraestruturas tecnológicas que registram, processam e disponibilizam imagens cartográficas, como, por exemplo, mapas de países, de cidades e até do desmatamento na Amazônia.
Se mapas por um lado possuem um caráter científico e tecnológico, por outro, podem evidenciar ou invisibilizar possibilidades econômicas, sociais e políticas. Dependendo da informação registrada, um mapa pode mostrar pontos comerciais de anunciantes, ou ignorar serviços públicos e projetos sociais que não possuem recursos financeiros ou técnicos para se apresentarem nessas tecnologias.
Assumindo que as tecnologias de construção de mapas não são neutras e podem ser usadas pela sociedade, os mapeadores comunitários da equipe do projeto Urbelatam, conforme descrito no verbete Mapeamento no Preventório, se propõem a fazer cartografias em favelas. Como eles dizem: “nosso trabalho é desenhar ou melhor redesenhar mapas nesses territórios” e assim “produzir coletivamente conhecimentos em favelas”.
Como forma de se afirmar e se diferenciar de outras iniciativas de mapeamentos colaborativos, os mapeadores do Preventório utilizam o termo “mapeamento comunitário”:
“Apesar dos ‘fazedores’ de mapas cidadãos produzirem mapas abertos de forma colaborativa e voluntária, algo de grande valor, eles são adeptos de uma visão de mundo mais alinhado com a crença que as ciências e tecnologias são neutras e positivas, enquanto nós acreditamos que os efeitos positivos, negativos ou nulos das ciências e das tecnologias dependem de onde, de quando e por quem elas são desenvolvidas.”
Os mapeadores comunitários, contudo, não se opõem às outras iniciativas. Na verdade se apoiam nas tecnologias existentes (Open Street Maps, Kudos, HOT Tasking Manager, entre outras) e buscam “transgredir algumas assimetrias e opressões embutidas nessas ferramentas em favor de uma produção de conhecimentos que faça sentido para o território, que tenha a cara, o jeito e a voz de quem vive o território”. Assim, usando tecnologias livres, cria-se um espaço comum de construção de saberes com abertura para novas pessoas.
O mapeamento comunitário do Preventório se disseminou por outras favelas, como são os casos dos coletivos participantes do projeto Tamo Junto. Cinco coletivos produziram mapas comunitários nas favelas da Cidade de Deus, Providência, Borel, Santa Cruz e Rocinha. Por meio desse diálogo com outros grupos, os mapeadores comunitários buscam, além de aumentar a visibilidade dos territórios, ampliar a redes de mapeadores. Para tanto, baseiam-se em uma proposta sociotécnica que a comunidade e a tecnologia se co-constroem em movimentos conjuntos e emergentes.
Além disso, as iniciativas de mapeamento comunitário se assemelham a outras cartografias e mapeamentos registradas no Dicionário de Favelas, como o Mapeamento de Favelas “desconhecidas”, os Mapas Afetivos, o Mapa da Rede Favela Sustentável, o Mapa dos Grupos Armados no Rio de Janeiro, a Cartografia da Luta Social na Região de Jacarepaguá, e o mapa de Homenagens à Marielle Franco. Essas iniciativas buscam registrar e apresentar espacialmente diferentes aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos das favelas. Ela se complementam e evidenciam informações a partir do olhar dos próprios moradores.
Em um contexto mais amplo, os mapeadores comunitários se juntam a outras formas de transformação social que foram relatadas aqui no Outras Palavras e estão registradas no Dicionário de Favelas Marielle Francos. Por exemplo, a Comunicação Popular, os cursinhos populares, as tecnologias reinventadas e os mutirões. Essas iniciativas se apropriam de tecnologias existentes para transformar as realidades das favelas.
As iniciativas listadas mostrar como as tecnologias cartográficas, inicialmente criadas para serem usadas por engenheiros e cientistas, podem ser reinventadas e democratizadas pela sociedade e assim potencializar as ações de grupos que lutam pela melhoria da vida nas favelas. (Introdução: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco)
Mapeamento no Preventório: Verbete se faz convidando pessoas?
Lembramos da primeira vez que o Fornazin (o Marcelo, nosso amigo, professor e membro da equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco) explicou pra gente a proposta do Dicionário e o que seria um verbete: “verbete é uma forma da gente construir conhecimento juntos. A gente começa escrevendo uma versão e depois vai convidando mais gente para escrever, ou seja, ele fica disponível pro cara comentar, sugerir edições, colaborar mesmo. Por isso, o conhecimento fica vivo”. Essa ideia de ser ou estar vivo nos atrai muito, porque nos leva a imaginar algo que se modifica com o tempo, algo que se adapta às mudanças, algo dinâmico, algo que aprende com a vida. E isso tem tudo a ver com nosso trabalho no Morro do Preventório, pois vamos modificando nossas ações conforme os aprendizados, as restrições, as conexões e outras coisas que a vida nos traz.
Só que em vez de escrever verbetes em favelas e periferias, nosso trabalho é fazer cartografias em favelas, ou seja, nosso trabalho é desenhar ou melhor redesenhar mapas nesses territórios. E em vez de “guardar” os conhecimentos produzidos num WikiFavelas, guardamos num Mapa Aberto de Ruas (no Openstreetmaps). Repositórios diferentes, tecnologias digitais diferentes, contudo um desejo em comum: produzir coletivamente conhecimentos em favelas. Desse desejo de construir com, nós, membros da equipe do projeto Urbelatam, fomos elaborando essa ideia de que verbete se faz convidando pessoas, ou seja, de que o ponto de partida para se produzir algo com alguém pode ser um convite, ou talvez seja um convite. Exemplo vivo disso é este próprio verbete que nasceu de um convite.
Verbetes e mapas se fazem colaborando?
Para a fundação OpenStreetMap qualquer pessoa tem a liberdade de usar e criar dados num mapa, contudo, como podemos ver na imagem, as áreas nobres de uma região do Rio de Janeiro têm seus edifícios e pontos de referência mapeados enquanto as favelas adjacentes são apresentadas como grandes vazios.
Fornazin nos convidou para escrevermos um verbete sobre o mapeamento colaborativo que estamos fazendo no Morro do Preventório. Pera aí, mapeamento colaborativo? Num primeiro momento a gente estranhou esse adjetivo para caracterizar o que fazemos no Preventório. Preferimos o termo mapeamento comunitário justamente para nos diferenciar dos coletivos não-favelados (por exemplo, os youthmappers) em sua maioria estrangeiros que se reconhecem como praticantes de um conceito chamado de Ciência Cidadã. Apesar dos “fazedores” de mapas cidadãos produzirem mapas abertos de forma colaborativa e voluntária, algo de grande valor, eles são adeptos de uma visão de mundo mais alinhado com a crença que as ciências e tecnologias são neutras e positivas, enquanto nós acreditamos que os efeitos positivos, negativos ou nulos das ciências e das tecnologias dependem de onde, de quando e por quem elas são desenvolvidas. Amplie a figura Não existem casas e edifícios nos Morros da Babilônia e do Chapéu Mangueira? e leia sua legenda com atenção.
Isso não quer dizer que haja alguma contradição insuperável entre as formas de co-laborar dos métodos de mapeamento comunitário e colaborativo. Muito pelo contrário, o trabalhar em conjunto do método comunitário (a “colaboração” comunitária) que inventamos no Preventório utiliza muitas ferramentas produzidas pelos cientistas cidadãos. Contudo, nós conseguimos transgredir algumas assimetrias e opressões embutidas nessas ferramentas em favor de uma produção de conhecimentos que faça sentido para o território, que tenha a cara, o jeito e a voz de quem vive o território. As imagens Mutirão Cidadão de Mapas Virtual Virtuoso e Preventório antes e depois da atuação dos mapeadores comunitários são evidências desse exercício prazeroso de transgredir.
Nós não descartamos a colaboração cidadã (que segue o viés da ciência cidadã e do conceito de cidadania) dos mapeadores da comunidade OpenStreetMaps. Nós simplesmente cruzamos esse tipo de colaboração com as ações comunitárias e solidárias do Preventório. Exemplo desse cruzamento entre o comunitário e o cidadão foi o Mutirão Cidadão de Mapas Virtual Virtuoso que realizamos juntando mapeadores da comunidade OpenStreetMaps e pessoas que vivem o território. A rigor, as práticas de mapeamento colaborativo da comunidade OpenStreetMaps costumam convocar pessoas para produzirem mapas através de mapathons (maratonas para editar mapas), uma prática derivada das hackathons (maratonas hackers para desenvolver softwares) onde via de regra ocorre uma competição entre equipes na qual os melhores hackers são reconhecidos por seus feitos tecnológicos. Mesmo sendo as contribuições realizadas aos mapas OpenStreetMaps majoritariamente voluntárias, maratonas antes de mais nada são competições. Dado esse contexto, como você convoca pessoas numa favela para ajudar alguém através de uma competição? É possível? É possível. É estranho? Parece que sim. Por exemplo, quando alguém está precisando de ajuda para levantar uma laje na favela, a gente faz uma feijoada ou a gente faz uma maratona? Quando alguém está precisando de um remédio, a gente pede uma doação, faz uma rifa ou faz uma competição?
Pensando nessas questões, a gente converteu a proposta da mapathon em um convite às comunidades tanto de mapeadores quanto de moradores para um Mutirão-Oficina de Mapas (talvez esse tenha sido o primeiro mutirão de mapas do OpenStreetMaps). Fizemos um convite. Um convite transgressor que cruzou conceitos e contextos diferentes: o mutirão, a cidadania, o virtual, a presença, a colaboração, a solidariedade. Será que a colaboração independentemente de ser comunitária ou cidadã começa com um convite? Será que os convites transgressores são mais potentes? Será que eles produzem conhecimentos mais potentes e mais diversos? Amplie a imagem Preventório antes e depois da atuação dos mapeadores comunitários e veja como um vazio cidadão virtual se converteu em pontos luminosos de cidadania comunitária. Leia as perguntas da legenda e colabore com este verbete matutando sobre nossas dúvidas mais sinceras do que provocativas.
As Quatro Dimensões
Após quase dois anos de projeto, formalizamos uma metodologia de trabalho a partir de uma oficina. Ela foi ministrada a pedido do projeto Tamo Junto, do Dicionário de Favelas Marielle Franco, em 2021. A metodologia conta com quatro dimensões a serem levadas em consideração no ato de mapear: Legitimidade; Planejamento Comunitário; Mapeamento e Ações Locais; e Tecnologias. Elas estão interligadas, de modo que, ao tratarmos de uma dimensão, é impossível não tratarmos das outras ao mesmo tempo.
Tomamos como Legitimidade o reconhecimento, pelo território, do trabalho de líderes comunitários. Desta forma, a legitimidade nasce na confiança entre as pessoas do Morro do Preventório e quem realizou o mapeamento — que contou com o protagonismo de líderes comunitários, tal como Marcos Rodrigo, Neném e Wanderson. Essa relação de confiança é fruto de trabalho de base e, principalmente, um olhar atento e cuidadoso às pessoas e suas necessidades.
A legitimidade é importante para o processo do mapeamento porque ela é uma dimensão que valida o nosso trabalho, desde a sua concepção até seu fim, de maneira que ele seja reconhecido por aqueles que vivem o território.
É bom destacar que o verbo “viver”, neste caso, adquire sentido mais amplo. Não está restrito apenas a moradores, mas a qualquer um que esteja dentro do território, que se considere parte dele ou que interaja com ele. Vivenciar o território, portanto, é interagir com ele, em maior ou menor grau.
Assim, o mapeamento ganha sentido tanto para quem o realiza quanto para aqueles que usufruem dele, já que não parte de um agente totalmente externo da comunidade. Este seria o caso se o projeto atuasse sem nenhum morador ou líder comunitário dentro de sua equipe e se não fosse capitaneado por algum desses agentes.
Já a dimensão do Planejamento Comunitário diz respeito ao trabalho no dia a dia da equipe, na qual a prioridade ao atendimento de necessidades do território é maior perante a própria realização do mapeamento em si. Isto porque as urgências da comunidade são diferentes da universidade e, por se tratar de uma equipe que é formada por líderes comunitários, a necessidade de seus colegas, amigos, vizinhos, etc., é mais importante que seguir um cronograma totalmente estático.
Durante certo tempo, a mudança diária no planejamento gerou desconforto, em especial, nos acadêmicos e estrangeiros que participaram do Urbelatam. A dinâmica do Preventório — assim como a de tantas outras favelas — não é a mesma que a dinâmica mais cartesiana da universidade. No entanto, ao invés de nos adequarmos a essas expectativas, entendemos que este é o modus operandi do nosso trabalho.
Diante da premissa de que o que importa é cuidar das pessoas da comunidade, replanejar as atividades do projeto em função do atendimento a essas urgências não é mais do que fortalecer a dimensão da Legitimidade e, por conseguinte, a validação do mapeamento. Afinal, não haveria sentido na sua produção se aqueles que usufruíssem dela fossem colocados em segundo plano.
Planejamento Comunitário (ou Errático) é o nome que demos ao tipo de planejamento que é adequado ao cotidiano do mapeamento, em contraposição com o planejamento tradicional ou ortodoxo, que pressupõe o cumprimento de tarefas baseado em datas de entrega e num cronograma preestabelecido, sem muita margem para flexibilidade. Esta dimensão, portanto, conversa intimamente com a Legitimidade, pois acontece em função dela e, ao mesmo tempo, é também seu resultado direto.
A dimensão do Mapeamento e Ações Locais destaca a relevância de prezar pelo bem estar dos moradores e frequentadores do território. Essa dimensão resgata ensinamentos de uma líder comunitária já falecida, Dona Graça, uma das fundadoras do Banco do Preventório. Nas palavras de Marcos Rodrigo:
“Dona Graça foi uma líder comunitária importante dentro do Preventório. Fundou a primeira associação de mulheres em 1987, participou de movimentos, na época, (…) fazendo trabalho comunitário. Era uma pessoa que estava sempre muito de bom humor, criou uma geração lá (…). E quando ela veio a falecer, eu fui visitar ela na última semana no Hospital do Fundão, e ela disse isso: “faz tudo devagar e cuida das pessoas, que é o mais importante”. Então ela estava bem ruim mesmo quando eu fui visitar ela, ela fez um tratamento no hospital e ela morreu de coração grande. Ela tinha um coração grande e ela morreu disso. Uma pessoa que ajuda muito a entender a forma como é o trabalho comunitário. E, realmente, esse atropelo não é bom (…). Então, ela fala essa coisa de andar devagar, é dar continuidade, que é mais importante do que a pressa. É mais importante do que o prazo, vamos dizer assim. (…) É o que eu costumo dizer: as pessoas têm tempos diferentes, né? E quando a gente vai para a universidade, aprende que isso é antologia. Mas a gente não quer respeitar o tempo do outro, a gente quer que as coisas sejam no nosso tempo e realmente não vão ser, né?“
Considerando que o Banco Comunitário faz parte do projeto e é um dos seus principais engajadores, as palavras de Dona Graça apontam para o caminho do modo de se fazer do mapeamento: devagar e cuidando das pessoas. Ela ilustra o cuidado, atenção, delicadeza, estima e responsabilidade que os líderes comunitários têm com os moradores do Morro do Preventório. Novamente, dimensão muito ligada à Legitimidade.
Por último, a dimensão Tecnologias aborda as adaptações feitas a partir das ausências — de políticas públicas ou serviços públicos e privados, derivados da marginalização de territórios como esse. A falta de dados oficiais do Preventório é um exemplo, mas há vários outros, como a carência dos serviços mais básicos: coleta de lixo e esgoto, distribuição de água, rede de drenagem, etc.
O Urbelatam tem um olhar otimista em relação às ausências, de forma a transformar uma falta em uma possibilidade. Falamos então em potências que se criam a partir das ausências. Assim, a própria elaboração do mapa é visto como uma potência, que surgiu da ausência dele, em primeiro lugar.
Isso não quer dizer, no entanto, que sugerimos uma romantização da precarização e da vulnerabilidade desse território. Na verdade, a ideia de trabalhar com potências vem de uma reafirmação de um discurso mais positivo diante de uma comunidade, geralmente retratada pela mídia e no senso comum apenas pela perspectiva de um local marginalizado. Não queremos, aqui, insinuar que a falta de saneamento básico, por exemplo, tem “seu lado bom” – ou que qualquer outra ausência tenha. Acreditamos que as políticas públicas ainda continuam sendo responsabilidade do Estado e que sua negligência é sintomática.
Ainda sobre as Tecnologias, fizemos uma antropofagia – que referencia o Movimento Antropofágico ocorrido no Brasil, no início do século XX – a partir da metodologia estrangeira, que apontava ferramentas não brasileiras para a realização do mapeamento. Inicialmente, essas diferenças culturais e linguísticas foram uma barreira a ser contornada, até acharmos nosso jeitinho brasileiro. É bom destacar que não utilizamos a expressão com caráter pejorativo, muito pelo contrário. Pensamos que, além de improvisos, o jeitinho brasileiro a que nos referimos também diz respeito ao seu caráter nacional (e, claro, local), já que o projeto teve que lidar com diferenças culturais ao longo dos seus três anos de existência.
Nosso primeiro propósito foi mapear o Morro do Preventório através da plataforma Open Street Maps (OSM). O mapeamento online foi realizado de forma bastante rápida, por um dos membros da equipe, Kayky. No entanto, para o refinamento dele e, mais tarde, a validação dos dados, foi necessário ir a campo. Neste sentido, reproduzimos, de forma “ao vivo” um método de uma segunda plataforma, o HOT Tasking Manager, que acontece de maneira virtual.
Esta plataforma funciona como um gerenciador de tarefas (edições) no mapa, a fim de que vários mapeadores possam cobrir o mapeamento de um determinado território ao mesmo tempo. Ele utiliza os dados do OSM e, ao trabalhar no HOT, estamos também colaborando diretamente com a plataforma OSM. A vantagem é, então, que o trabalho não é duplicado e há a facilidade na divisão de tarefas. Ao acessar a plataforma, encontrávamos o território dividido como mostra a figura abaixo. Você pode explorar o projeto que criamos na plataforma clicando aqui.
Usamos a ideia de divisão do território em pedaços — quadrados ou retângulos — para imprimir partes da ortofoto fornecida pela Prefeitura de Niterói e, desta forma, conseguir validar os dados ou acrescentar novos ao trabalho já feito.
Neste processo, utilizamos uma terceira ferramenta, o Kobo. Sua maior vantagem é funcionar de forma offline, já que a cobertura telefônica no morro não é homogênea. É possível georreferenciar pontos específicos e acrescentar, nesses pontos, informações a partir de um formulário customizável pelo usuário.
Então, a antropofagia dessas tecnologias apresentadas resultou na criação de uma nova tecnologia, uma que fizesse sentido para o território e para o nosso trabalho dentro dele.
As quatro dimensões do mapeamento compõem uma metodologia criada a partir do fazer diário, das adversidades e das urgências da comunidade, com os choques culturais, políticos e ideológicos dentro do projeto. Ela mesma é, então, uma tecnologia, adaptada de um modo de fazer estrangeiro.
Queremos apontar aqui, em especial, a diversidade de modos de se fazer que cada território pode apresentar. A maior descoberta que fizemos ao longo da aventura de mapear o Morro do Preventório foi perceber a potencialidade que a produção de um mapa pode trazer a um território. Além disso, incentivamos enormemente que cada comunidade encontre o seu próprio jeito de fazer seu mapa, já que consideramos que esse processo é, além de único, rico e poderoso.
https://wikifavelas.com.br/index.php/Mapeamento_no_Prevent%C3%B3rio
Matéria publicada também na Revista Outras Palavras
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